O joelho é uma articulação complexa, com um papel fundamental na funcionalidade de qualquer pessoa. Porém, ao mesmo tempo, ela é uma articulação que não possui tantos eixos de movimento. Isso faz com que desvios posturais afetem diretamente o eixo articular do joelho. Entre estes desvios, temos o valgo dinâmico, que é um problema muito comum.
Como ele acaba afetando o movimento de extensão de joelho, temos uma sobrecarga articular indevida. Pense da seguinte forma: ao levantar-se de uma cadeira, ou ao realizar qualquer movimento de agachamento (ou suas variações), o joelho precisa manter o seu alinhamento, para que a pressão, carga e impacto, sejam distribuídos de forma uniforme entre as estruturas. No caso do valgo dinâmico, por uma série de questões que iremos tratar mais adiante, o joelho se medializa, ou seja, ele vai “para dentro”. A questão do valgo dinâmico em si, é que este não é, no geral, um problema estrutural (apesar de que exista o valgo estático/estrutural, mas este é outro caso). Geralmente o valgo dinâmico é um problema de ativação muscular. Ocorre por desequilíbrios e falta de força em determinados músculos que veremos a seguir:
QUAIS OS PROBLEMAS DO VALGO DINÂMICO? Em termos articulares, muitos! Por ser um problema que acontece em um movimento muito comum no dia a dia, temos uma incidência muito grande de sobrecargas articulares e principalmente, cartilaginosas.
Imagine a seguinte situação: ao realizar a extensão do joelho (quando você “sobe”, no agachamento, por exemplo), seu joelho sai do eixo articular adequado. Ao fazer isso, há uma sobrecarga muito grande nas estruturas cartilaginosas da parte medial do joelho. Agora imagine repetir isso várias e várias vezes ao dia, ou durante o esporte como a corrida e por anos e anos. Somando isso ao fato de que as pessoas que apresentam valgo dinâmico, geralmente tem uma ativação muscular deficitária, temos um mecanismo de lesão clássico. O valgo dinâmico acaba sobrecarregando estruturas articulares e cartilaginosas, devido a repetição das descargas, que não são feitas de maneira uniforme. Por isso, o valgo dinâmico está entre as causas mais comuns, na origem de patologias como a condromalácia patelar, atrito da banda iliotibial, artrose e outras. Neste sentido, este é um desvio de padrão biomecânico que precisa ser muito bem avaliado pelo ortopedista, pois caso ele não seja solucionado, podemos ter uma forte incidência de problemas de joelho. Se somarmos o valgo dinâmico ao trabalho com carga, teremos um quadro ainda pior. E por trabalho com carga, não imagine apenas uma academia ou exercícios. Sobrepeso somado a um valgo dinâmico também é um problema grande. Por isso, é fundamental que em qualquer abordagem de tratamento, seja feita uma avaliação biomecânica do paciente. Caso contrário, incorre-se o risco de efetuarmos tratamentos que não são de fato eficientes, pois a origem do problema não é resolvida.
QUAIS AS CAUSAS DO VALGO DINÂMICO As causas do valgo dinâmico podem ser muitas. No geral, ele vem aliado a questões como fraqueza muscular, desequilíbrios na ativação de músculos estabilizadores, desvios posturais, sedentarismo e falta de coordenação motora. Em todos os casos, é muito importante um trabalho integrado. Entre as causas mais comuns do valgo dinâmico, temos:
Fraqueza do músculo glúteo médio O músculo glúteo médio está localizado na lateral do quadril. Ele tem uma função de manter o fêmur (osso da coxa), em um alinhamento correto. Caso este músculo não tenha tônus e força suficiente, ele acaba não conseguindo “segurar” o fêmur no eixo articular correto e com isso, o valgo dinâmico acontece. Fraqueza de quadríceps Quando o quadríceps (músculo da parte frontal da coxa), não é ativado corretamente, é natural que o valgo dinâmico aconteça, devido a compensação do movimento. Como estamos falando de um músculo de grandes proporções, em comparação a outros grupos musculares, caso ele não tenha uma ativação correta, o joelho fica instável e devido a força da gravidade, ele “entra” e causa um valgo dinâmico. Falta de coordenação motora ou alterações posturais Aqui entram duas questões bem importantes: o valgo dinâmico está muito ligado também a percepção do corpo. Há casos onde o paciente não apresenta os sintomas acima, mas tem um padrão de movimento alterado que é inconsciente. Neste caso, o fisioterapeuta e o educador físico trabalham em conjunto, para resolver esta questão. No caso das alterações posturais, como uma escoliose, temos também uma maior incidência de valgo dinâmico, devido ao desvio que ela pode gerar no quadril. Pé plano também pode ocasionar este problema.
POR QUE AS MULHERES TÊM MAIOR INCIDÊNCIA DE VALGO DINÂMICO? Basicamente, a mulher tem uma estrutura de quadril diferente. Ele é mais “aberto”. Isso faz com que o ângulo em que o fêmur se insere no quadril seja maior, projetando a sua inserção no joelho, para “dentro”. Isso faz com que as mulheres tenham uma incidência muito maior de valgo dinâmico. Chamamos esta razão, o ângulo do fêmur, de ângulo Q. Quanto maior ele for, maior será a propensão ao desenvolvimento de um valgo dinâmico. Esta é uma das razões que fazem com que as mulheres desenvolvam muito mais quadros de condromalácia patelar. Alguns estudos indicam também forte correlação do valgo dinâmico com alterações hormonais nas mulheres. Existem relatos do início dos sintomas após a troca de anticoncepcionais ou inserção de DIU, por exemplo. Por isso, em alguns casos, o acompanhamento com um (a) ginecologista do esporte faz-se muito importante.
COMO CORRIGIR OU TRATAR UM VALGO DINÂMICO? O primeiro ponto é a avaliação. Aqui entra o papel do fisioterapeuta. Ele vai realizar diversos testes e chegará à conclusão de quais são as estruturas que necessitam ser fortalecidas, se há hiperatividade de algum grupo muscular, ou hipoatividade de outros. Após a avaliação, é feito um trabalho de reequilíbrio muscular. Em casos mais brandos, onde não se apresentam lesões ainda, o trabalho pode ser feito por um educador físico competente. Em casos onde o valgo dinâmico é diagnosticado devido a uma consulta por algum tipo de dor ou lesão, o trabalho deve ser paralelo ao tratamento prescrito. No geral, o valgo dinâmico pode ser corrigido facilmente, mas o trabalho deve ser integrado e principalmente, contínuo. Como prevenir a recidiva do valgo dinâmico? O grande segredo de recidiva do valgo dinâmico e de sintomas típicos da condromalácia ou dor no quadril está na palavra TRANSIÇÃO. O termo muito popular no esporte profissional consiste na avaliação biomecânica e na prescrição de exercícios tanto na musculação tradicional, quanto em treinos funcionais mais avançados, além da orientação de uma melhor periodização de treinamento. Tipicamente, a transição ocorre quando a equipe de fisioterapia “entrega” o paciente aos profissionais da educação física. Após este período, manter-se sempre ativo(a) com volume de treino e peso controlados previnem a recidiva do valgo dinâmico.
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