Entenda a anatomia do bíceps
O músculo bíceps tem origem no ombro em dois locais, com tendões separados, que se unem no braço e formam um tendão único que se insere no cotovelo, no osso rádio do antebraço. É um músculo que cruza 2 articulações, do ombro e do cotovelo.
No ombro, a cabeça longa do bíceps (também chamado de bíceps proximal) se origina da parte superior da glenoide, no lábio superior. Ele faz uma curvatura acentuada e passa por um sulco no osso úmero, chamado de goteira bicipital. Devido a essa característica, ele pode sofrer lesões com frequência em qualquer um desses 3 locais. Movimentos de abdução e rotação externa (movimentos de arremesso) são os que mais sobrecarregam o bíceps proximal.
No cotovelo, o tendão do bíceps se insere na tuberosidade radial, uma proeminência no osso rádio, onde também pode sofrer lesões, chamadas de lesões do bíceps distal. As lesões nessa região são mais raras, porém são mais graves, pois, em geral, são completas e causam a perda completa da função do bíceps.
O bíceps tem duas funções. Ele auxilia o músculo braquial para realizar a flexão do cotovelo. Curiosamente, ele tem papel secundário nessa função de flexão, sendo o músculo braquial o principal flexor do cotovelo. A sua outra função é a de supinação, que é a rotação do antebraço (movimento de colocar a palma da mão para cima).
Quais são os tipos de alterações do bíceps proximal?
O tendão da cabeça longa do bíceps pode sofrer tendinites (inflamações), lesões parciais ou lesões completas. Também pode apresentar instabilidade, que ocorre quando ele se desloca do seu sulco. Isso pode ocorrer mais frequentemente nos pacientes com lesões associadas do tendão do subescapular e da polia do bíceps. A lesão também pode ocorrer na sua origem, no lábio superior, chamadas de lesões SLAP.
Quais são os sintomas das lesões do bíceps no ombro e como é feito o diagnóstico?
As tendinites, lesões parciais e luxações do bíceps costumam causar dor no ombro. A dor pode ser inespecífica ou pode ser na parte da frente do ombro. No entanto, vale reforçar que nem toda dor na frente do ombro é por alterações no bíceps. Nessa região temos a confluência de vários tendões (supra, sub e bíceps), além da cápsula articular e a bursa anterior.
As lesões completas podem causar uma deformidade na parte da frente do ombro, chamada de sinal do “Popeye”. Nem todas lesões completas causam essa deformidade. Em alguns pacientes o tendão pode ficar preso na goteira bicipital, não causando alteração perceptível. Em outros, seja por fraqueza do bíceps ou por obesidade, a alteração pode não ser percebida.
Para o diagnóstico das outras lesões ou de alterações associadas pode ser necessário a realização de exames de imagem, como o ultrassom e a ressonância magnética.
Lesões associadas às lesões do bíceps proximal
É importante destacar que as lesões do bíceps raramente ocorrem sozinhas. Tanto as tendinopatias e lesões parciais quanto as completas estão associadas a alterações do manguito rotador em mais da metade dos pacientes. Em muitas situações, as lesões associadas podem ser até mais importantes para ajudar a determinar o tratamento a ser realizado. Por isso, a avaliação do ombro é fundamental nos casos com lesões do bíceps proximal.
Qual é o tratamento das lesões do bíceps no ombro?
As tendinites da cabeça longa do bíceps são de tratamento conservador, com inúmeras medidas que podem reduzir a dor e a inflamação. A Fisioterapia (reabilitação) é parte fundamental, com diversos detalhes que podem corrigir os desequilíbrios musculares e o gesto esportivo, reduzindo a sobrecarga no tendão. Também é fundamental o tratamento das lesões associadas que podem ocorrer.
As lesões parciais e as luxações do bíceps tem o tratamento mais complexo. O tratamento inicial deve ser conservador (Fisioterapia principalmente), mas dependendo da demanda do paciente, dos esportes praticados e da situação do tendão, pode apresentar baixa taxa de sucesso, pois essas lesões não cicatrizam sozinhas. Nos casos que não apresentam melhora pode ser necessário o tratamento cirúrgico, que será explicado a seguir.
Nas lesões completas, a escolha do tratamento depende dos sintomas e da deformidade. Nem todos os pacientes apresentam deformidades. E muitos não apresentam dor após a rotura completa. A perda de força é variável e depende da demanda. Nos pacientes com menor demanda, a perda de força de flexão do cotovelo pode não ser significativa. Nos pacientes com maior demanda esportiva o bíceps pode ficar doloroso, apresentar fadiga mais facilmente e, eventualmente, uma perda de força objetiva. Portanto, o tratamento conservador é aceitável para as lesões da cabeça longa do bíceps (bíceps proximal ou no ombro) em muitos pacientes. Para a correção da deformidade ou para a diminuição do risco de perda de força ou dor, o tratamento cirúrgico é necessário. Converse com um médico especialista para a orientação para o seu caso.